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2 de mar. de 2011

I ENCONTRO ESTADUAL DE MULHERES DO AXÉ - RJ.



Nina Fola – Secretária Executiva da RENAFROSAUDE-RS FAZ O RELATO DO I ENCONTRO ESTADUAL DE MULHERES DO AXÉ PROMOVIDO PELA RENAFROSAUDE-RJ

NOS DIAS 21 E 22 DE FEVEREIRO

É com grande prazer e entusiasmo que divido com vocês um pouco do que senti, vi e ouvi neste I Encontro Estadual de Mulheres do Axé, organizado pela RENAFROSAUDE no Rio de Janeiro.
A missão da RENAFROSAÚDE é capacitar lideranças, e eu, Nina Fola, fui mais uma a incorporar esta proposta e  aprendi muito, o que as Iyás têm a nos ensinar e que neste Brasilzão há maravilhosas mulheres de axé!


Também é preciso dizer que nosso estado estava muito bem representado pela Iyá Claudete de Sapatá de Alvorada, liderança histórica no movimento de mulheres, conhecida nacionalmente. Então, dividimos a missão e acho que fizemos o dever de casa bem feito.

No primeiro dia a programação foi de impacto e de empoderamento. A mesa de abertura - com a presença de Mãe Edelsuíta de Oxalá (RJ), Mãe Jane de Oyá (PE), Willian Amaral (Fórum ONGs AIDS RJ), Sandra Adonini (Fundo de Populações das Nações Unidas), Lise Pereira (Comitê Técnico de Saúde da População Negra do Município do Rio de Janeiro), Denise Pires (Secretaria  estadual de Saúde do RJ – Gerência de DSTs, AIDS e Hemoderivados) e Ogã José Marmo (Secretário Executivo da RENAFROSAUDE) - foi ótima e apontou o crescimento das parcerias que ao longo dos anos a Rede está adquirindo.
Após, a professora Helena Theodoro, falou do Culto de Iansã e as Mulheres do Brasil, seu último livro lançado, sacudiu a plenária com sua alegria de viver e o conhecimento sobre este orixá que desafia o status quo que é Iansã. Eparrei Oyá!

Com sua imensa potencialidade intelectual professora Helena desestabiliza os conceitos acadêmicos em prol da lógica de visão de mundo africana, onde o ocidente bebeu na fonte e hoje discrimina e até criminaliza.

Solicitou à tod@s nós a nos despirmos da vergonha pela nossa cultura e se utilizar da força mitológica de Iansã para fazermos concretizar, da forma mais feminina e guerreira, nossos desejos de igualdade de oportunidades nesta sociedade machista e desigual e racista.

Jurema Werneck, nos deu uma aula sobre Mulheres negras e Racismo. Numa apresentação breve e impactante, nos colocou a pensar a necessidade de estarmos sempre alertas aos sinais do racismo e suas facetas.

O fardo do racismo levado pelas mulheres negras é pesado demais, diz Jurema, que nos leva ao sofrimento e ás piores condições de vida. E nos convocou a continuar na luta, justificando nossa existência e resistência porque nossos antepassados lutaram bravamente. E finalizou dizendo que nunca deixemos de investir no nosso futuro, nas crianças, como tod@s nós já fomos, por que elas irão afirmar o que somos hoje.

Lúcia Xavier falou do Plano Nacional de Políticas para as Mulheres, detalhando as questões que interessavam às mulheres de axé e negras.

Mobilizou-nos a procurarmos outras formas de obtenção de ajuda, pois os terreiros sempre construíram formas de apoio e solidariedade com outras mulheres e com a população de modo geral, mas agora, num mundo mais globalizado, temos que atuar para a mudança política do quadro de desigualdades, nos espaços de poder e controle social.

Maria Assuncion da Secretaria de Saúde do Rj falou sobre a Epidemia do HIV e AIDS no Estado, a feminilização desta epidemia e lançou em nossas cabeças dados para a construção de ações que nos digam respeito.

Yá Cristina de Osun (SP) finalizou as palestras do dia, com dinâmicas de memória, para depois nos mostrar um pouco da ação institucional e governamental no Estado de SP, onde o número de casos de AIDS e mortes vem tendo um desaceleramento razoável.

Tivemos também a presença de Carlos Medeiros, do Departamento de Igualdade Racial do Estado RJ, que relatou brevemente de seu empenho em dar a sua pasta, orçamentos e parcerias que possibilitem efetivar projetos que contemplem nossas questões.

O dia acabou maravilhoso, com Mãe Beata de Yemanjá recitando um poema seu “Seiva do Baobá” e contando como uma Griôt africana a História de Dona Zilú.

Aos 80 anos, emocionada à todo o momento, fala que ancestralidade é viver mais um dia! E encerrou a noite dizendo: “Nós somos um perfume, que quando o vidro se quebra a essência é que fica”.

No segundo dia, abrimos com mais uma presença gaúcha: Simone da ACMUN, Rede Lai Lai Apejo e representante da CAMIS – Ministério da Saúde, que relatou sua pesquisa em organização de mulheres negras no combate à epidemia de HIV e AIDS e investigou o porquê as organizações mistas não atuam da mesma forma. Juntamente com a Simone, a Amália, do Fundo Elas, falou da trajetória deste fundo e como ele pode estar contribuindo para o fomento de ações sócias de mulheres de axé.

Eu participei dando o informe histórico das ações da RENAFROSAUDERS desde o ano de 2009, na conquista do evento Didá Ará, falei do lançamento da revista e de nossa corrida para a execução do I Encontro Estadual no RS. Infelizmente a hora me mandou embora do evento antes do encerramento e tive que sair para voltar para Porto Alegre. Mas a constatação é que Porto Alegre e o RS precisam urgentemente de um encontro assim, para que nossas mulheres do Axé gaúchas, que geralmente são nossas líderes em nossos terreiros, utilizem este espaço de empoderamento e construção coletiva.


Mãe Nilce de Yansan , que representou a RENAFRO SAÚDE fez um relato da sua experiência no Forum Social Mundial em Dakar .

Por fim, o que encaminhamos no encontro é o seguinte:

1 – O núcleo RS da Rede tem a missão de  pensar e organizar nossas mulheres do Axé;
2 – Iyá Claudete, eu Nina Fola e Simone, nos reuniremos para e pensar uma capacitação entre mulheres de axé e o combate a AIDS, projeto já aprovado pela Rede Lai Lai Apejo, selando a parceira entre estas redes, e que isso possa acontecer em Porto Alegre e Alvorada.


Então meu povo é isso. Agora é partir para o trabalho. Até o próximo encontro ou evento.

Nina Fola – Secretária Executiva do RENAFRO-SAUDE-RS